Consequências
O Cocó é afetado por diversos problemas, que interferem diretamente tanto na vida da população quanto na fauna e flora do parque. No contexto geral, o parque é ameaçado pela ação humana e pelo meio ambiente, abrangendo fatores desde a especulação imobiliária até a atividade de espécies invasoras.
Em relação à crescente urbanização fortalezense, leva-se em conta que a vida próxima a áreas verdes é bastante benéfica para a saúde física e mental da população. No entanto, tal fato ocasiona a valorização imobiliária desses locais, fazendo com que o crescimento urbano avance enquanto que o Parque do Cocó, por exemplo, sofre um processo de compressão.
Nesse sentido, o professor de biologia Rafael Carvalho, da Universidade Federal do Ceará (UFC), aborda que “o mercado imobiliário avançou para cima do parque naquela região até o limite onde, para eles, era importante manter o parque como fator de valorização”.
Além disso, o biólogo e vereador Gabriel Aguiar (PSOL) ressalta que a vulnerabilidade socioambiental também é um problema relacionado ao Cocó, visto que diversas famílias que não têm onde morar vão ocupar áreas como as de zonas de proteção ambiental, as quais apresentam, por exemplo, riscos de enchentes. Ademais, por estarem irregulares, tais pessoas não podem receber a regularização do saneamento, levando-as a destruírem o que ainda resta de natureza nessas áreas.
Em relação ao rio Cocó, ele é constantemente afetado pelas chuvas, que levam a sujeira da cidade para o rio. Além disso, a vegetação ciliar que deveria proteger a água do parque da entrada de resíduos já foi abundantemente eliminada. Segundo Júnior, pescador e morador da Sabiaguaba há mais de 20 anos, a ação humana colaborou para que a região se tornasse um mangue. O pescador relatou que após a construção da Ponte da Sabiaguaba o local ficou inundado, a ponto de inviabilizar a moradia.
Falando sobre as chuvas, Gabriel opina que, hoje, a rede de coleta de água da chuva – a rede de drenagem – não age como deveria, pois em vez de água da chuva, ela coleta a água de esgotos ilegais, a qual é diretamente levada para os recursos hídricos, como o rio Cocó.
No que se refere à ação ambiental, Rafael Carvalho informa que as espécies invasoras são atualmente vistas como o segundo principal motivo para a perda de biodiversidade no planeta, pois elas têm poder suficiente para mudar processos ecossistêmicos. Nesse sentido, quando uma espécie invasora consegue se estabelecer em um novo ambiente e começa a se proliferar extensivamente nele, a completa eliminação da espécie no local passa a ser mais rara.
Imagem: Reprodução/Fábio Lima, Jornal 0 Povo
Incêndios em novembro
O Parque do Cocó, no dia 17 de novembro de 2021, sofreu um incêndio intenso na região da Avenida Raul Barbosa, que atingiu cerca de 46 hectares e espalhou fumaça por vários bairros da cidade de Fortaleza, como Vila União e Montese.
Em todos os anos, o parque tem alguma área incendiada, principalmente em períodos com menos chuvas. Todavia, o biólogo Gabriel Aguiar afirma que tal ocorrido foi dezenas de vezes maior do que o que geralmente acontece, visto que, normalmente, o fogo atinge por volta de meio hectare, mas esse em específico afetou cerca de 46.
Gabriel atuou diretamente no combate aos incêndios, colaborando como brigadista, e afirma que na pequena área que participou como combatente, foram encontrados 18 animais silvestres mortos em uma pequeníssima área do incêndio, que não deve representar nem 1% da área queimada. Ademais, Gabriel disse que tais animais eram os que não foram incinerados durante o incêndio, pois esses eram impossíveis de serem achados.
No dia do ocorrido, duas guarnições de bombeiros foram enviadas para realizar o combate ao fogo no local. Contudo, o incêndio atingiu uma área de difícil acesso do parque, principalmente para os caminhões, obrigando os bombeiros a realizarem o combate de forma manual.
Apesar da ação rápida, as autoridades ligadas a isso ainda não têm informações concretas sobre o caso, não se tendo certeza do que fez com que as chamas fossem mais violentas do que nas outras vezes.
Segundo Gabriel, algumas hipóteses estão sendo estudadas, dentre as quais ele destaca duas intervenções humanas como possíveis causadoras. A primeira é a construção da barragem no Conjunto Palmeiras, elaborada para impedir as enchentes, mas que, consequentemente, torna secas áreas que deveriam estar embebidas de água.
A segunda diz respeito à dragagem do rio, processo no qual sedimentos são retirados do rio e a profundidade desse é aumentada; no caso do Cocó, o prejuízo possivelmente decorre do fato de que os resíduos foram depositados em uma área muito próxima, aumentando o nível da terra e abaixando o do rio, deixando o local seco.